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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ensaio: A Informática Aplicada à Educação

Fábia Magali Santos Vieira *

Resumo:

A expressão "Informática na Educação" significa utilização do computador no processo de ensino-aprendizagem. Mas essa utilização é orientada segundo um determinado paradigma pedagógico que determina as possibilidades de uso do mesmo na educação. O objetivo do presente artigo é refletir sobre as transformações ocorridas na sociedade neste século, as implicações decorrentes destas mudanças na educação e o surgimento de um paradigma informático na mesma.

Desde o pós-guerra a sociedade vem passando por grandes mudanças. Nas primeiras décadas deste século houve uma aceleração nas mudanças das práticas culturais e político-econômicas. Segundo Franco (1997), essas transformações estão ligadas à maneira pela qual experimentamos o tempo e o espaço. As certezas da física clássica em relação às categorias de espaço e tempo e a separação entre matéria e energia foram superadas com a teoria da relatividade de Einstein.

Para Capra (1996), as novas concepções da física têm gerado uma profunda mudança em nossas visões de mundo; da visão mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão de mundo holística, ecológica.

Desde Newton, os físicos têm acreditado que todos os fenômenos físicos podiam ser reduzidos às propriedades de partículas materiais rígidas e sólidas. Na década de 20, a teoria quântica nos convenceu que os objetos materiais sólidos da física clássica se dissolvem, no nível subatômico, em padrões e probabilidades semelhantes a ondas. Os padrões não representam probabilidades de coisas, mas sim, probabilidades de interconexões. As partículas subatômicas não têm significado isoladamente, mas podem ser entendidas somente como interconexões, ou correlações, entre vários processos de observação e medida. Segundo Werner Heisenberg, um dos fundadores da teoria quântica: "O mundo aparece assim como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos que alternam, se sobrepõem ou se combinam, por meio disso, determinam a textura do todo".

Assim, com o desenvolvimento da física quântica, as certezas ficaram ainda mais frágeis e começa a surgir uma crise na cultura ligada às nossas tradicionais formas de representar o mundo.

Além das implicações das descobertas da física, surgem as proposições da Teoria da Matemática da Informação, que descobrem que a informação é uma quantidade que pode ser armazenada em bit, e a compreensão de como representar a transmissão do sinal elétrico permitiu que ele fosse utilizado em novas formas de transmissão de mensagens e a evolução dessas formas eletrônicas de transmissão de sinais levou ao desenvolvimento da informática e das redes de computadores, cujo estado atual é a Internet.

Vivemos em uma era na qual, a cada momento, surgem infinitas informações e a capacidade humana não é mais suficiente para absorver todo o saber que envolve a sociedade contemporânea. Como fica o homem diante de tantas transformações?

As mudanças de pensamento que ocorreram neste século levaram Thomas Kuhn à noção de um "paradigma" científico, definido como "uma constelação de realizações – concepções, valores, técnicas, etc. – compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos". Segundo Kuhn, mudanças de paradigmas, ocorrem sob a forma de rupturas descontínuas e revolucionárias .

Estamos neste momento vivendo uma transição, de superação de um paradigma que modelou a sociedade ocidental e influenciou significativamente o restante do mundo. Esse paradigma pode ser identificado na visão de universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementar, a crença segundo a qual em todo sistema complexo o comportamento do todo só pode ser entendido inteiramente a partir das propriedades de suas partes, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência . Todas essas premissas têm sido desafiadas reavaliadas pelos últimos acontecimentos.

Entre a transição e as incertezas o homem precisa compreender o estatuto do saber da atual sociedade globalizada centrada no uso e aplicação da informação. Cada vez mais o acesso à informação se faz através da informática. As novas tecnologias de informação apresentam-se modificando modos de ser e pensar estabelecidos e fazem emergir novos espaços para a cultura, a Cybercultura..

Para Lévy, (1999), qualquer reflexão sobre as possibilidades de aplicação da informática à educação deve-se apoiar em uma reflexão da mutação contemporânea da relação com o saber. A primeira questão se refere à velocidade do surgimento e da renovação dos saberes e do Know-how; a segunda, ligada à primeira, defende que trabalhar equivale cada vez mais a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos; a terceira questão, o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas: a memória (bancos de dados, hipertextos), a imaginação (simulações), a percepção (sensores digitais, realidades virtuais, os raciocínios (inteligência artificial).

A nova relação com o saber, a produção do conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão redimensionado profundamente os objetivos da educação.

A educação, como conjunto de estratégias desenvolvidas pelas sociedades para possibilitar a cada indivíduo atingir seu potencial criativo, estimular o convívio em sociedade e o exercício da cidadania, tem de perceber as transformações radicais ocorridas na sociedade e atender suas exigências. Para D’Ambrósio (1999), "Educação é ação. Um princípio básico é que toda ação inteligente se realiza mediante estratégias que são definidas a partir de informações da realidade. Portanto, a prática educativa, como ação, também estará ancorada em estratégias que permitem atingir as grandes metas da educação."

As estratégias, por sua vez, estão apoiadas em ferramentas, recursos que viabilizam sua realização. Mais do que nunca os professores estão recorrendo à tecnologia. Ao contrário do senso comum de que informática facilita o processo de ensino-aprendizagem, o computador dificulta o processo, podendo enriquecer ambientes de aprendizagem, onde o aluno, interagindo com os objetos desse ambiente, tem chance de construir o seu conhecimento. O conhecimento não é passado para o aluno; ele não é mais instruído, ensinado, mas construtor do seu próprio conhecimento. Assim o paradigma instrucionista vai sendo substituído pelo paradigma construcionista onde a ênfase está na aprendizagem, na construção do conhecimento ao invés de estar no ensino, na instrução.

Segundo Valente (1998), o computador tem sido usado na educação como máquina de ensinar que consiste na informatização dos métodos de ensino tradicionais; o professor implementa no computador uma série de informações, que devem ser passadas ao aluno na forma de um tutorial, exercício e prática ou jogo. Desta forma o computador não contribui para a construção do conhecimento pois a informação não é processada, mas simplesmente memorizada.

A abordagem denominada por Papert de construcionismo, permite que o aprendiz possa construir seu conhecimento através do computador. Segundo essa concepção, a construção do conhecimento só acontece quando o aluno constrói um objeto de seu interesse, um texto, um programa, etc. Para Valente (1998), a diferença entre a teoria de Piaget e o construcionismo de Papert é que o conhecimento é construído através do computador, o computador é utilizado como uma ferramenta de aprendizagem. "Quando o aprendiz está interagindo com o computador ele está manipulando conceitos e isso contribui para o seu desenvolvimento mental, ele está adquirindo conceitos da mesma maneira que ele adquire conceitos quando interage com objetos do mundo."(Valente,1998)

A introdução da informática na educação tem provocado o questionamento dos métodos e práticas educacionais uma vez que o computador deve ser utilizado como um catalisador de uma mudança do paradigma educacional. Um paradigma que promova a aprendizagem ao invés do ensino, que coloque no centro do processo o aprendiz, que possibilite ao professor refletir sobre sua prática e entender que a aprendizagem não é um processo de transferência de conhecimento, mas de construção do conhecimento, que se efetiva através do engajamento intelectual do aprendiz como um todo. Tais reflexões devem levar a um redimensionamento de sua prática, passando de uma prática fundamentada no paradigma instrucionista para o construcionista. A Informática aplicada à educação não deve estar associada a um modismo ou à necessidade de se estar atualizado com as inovações tecnológicas. Esses argumentos servem para maquiar a utilização do potencial pedagógico do computador na educação, pois não contribuem para o desenvolvimento intelectual do aluno. Seu objetivo deve ser o de mediar a expressão do pensamento do aprendiz, favorecendo os aprendizados personalizados e o aprendizado cooperativo em rede.

Bibliografia:

CAPRA, Fritjof – A TEIA DA VIDA. São Paulo: Cultrix, 1996

CASTELLS, Manuel. A SOCIEDADE EM REDE. São Paulo: Paz e Terra, 1999

D’AMBRÖSIO, Ubiratan. EDUCAÇÃO PARA UMA SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO. Campinas, SP: Papirus, 1999

FRANCO, Marcelo Araújo. ENSAIOS SOBRE AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INTELIGÊNCIA. Campinas, SP: Papirus, 1997

LÉVY, Pierre, CYBERCULTURA. São Paulo:Ed.34,1998

__________, A MÁQUINA DO UNIVERSO: CRIAÇÃO, COGNIÇÃO E CULTURA INFORMÁTICA. Porto Alegre: ArtMed, 1998

PAPERT, Seymour. A MÁQUINA DAS CRIANÇAS: Repensando a Escola na Era da Informática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994

VALENTE, J. Armando. POR QUÊ O COMPUTADOR NA EDUCAÇÀO . IN: http://www.proinfo.gov.br/testosie/prf_txtie9.htm

VIEIRA, Fábia M. S. A EDUCAÇÃO NA ERA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO . http://www.connect.com.br/~ntemg7/

* Mestre em Ciência da Educação pelo ISPEJV, Havana/Cuba, Mestranda em Tecnologia na Educação, FE/UnB. Professora de Informática na Educação, Coordenadora do projeto Unimontes Virtual da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes –MG e Professora de Tecnologia da Informação aplicada à Educação – Faculdades Pitágoras – Montes Claros

Texto disponível em <http://www.ise.unimontes.br/cead/artigos.php >. Data de acesso 21 /04 /2006

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